O Museu da Segunda Guerra Mundial de Gdansk é o único museu do mundo totalmente dedicado ao assunto. E faz sentido ter se estabelecido ali nessa cidade. Afinal, foi lá que em setembro de 1939 deu-se início à II Guerra, com um ataque da Alemanha à base polonesa na Península de Westerplatte.
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A primeira impressão que tive, ao adentrar o museu, foi de espanto pela sua grandiosidade e modernidade. Não era esse o aspecto que imaginava ter um museu sobre a Segunda Guerra Mundial. O seu visual clean, espaçoso e milimetricamente calculado, me pareceu quase como um ambiente saído de uma revista de decoração escandinava.
Percorrendo os seus espaços, o sentimento mudou. Agora, um nó atravessava a minha garganta. Esse nó não me era estranho. Ele também esteve presente em outras das minhas visitas a locais que remetiam à Segunda Guerra, como no campo de concentração de Auschwitz.
As exposições do Museu da Segunda Guerra Mundial de Gdansk são impactantes e surpreendentes. Bem diferente do que estudamos nos livros de história, as narrativas ali são tratadas de forma pessoal, imbuídas de relatos diversos de pessoas que viveram naqueles tempos de horror.
Nesse post escrevo sobre informações práticas da visitação ao museu, com explicações e curiosidades e, ainda, resumo o que você encontrará em cada pavilhão. Tudo, claro, com uma pitada de como foi a minha experiência por lá.
Sobre o Museu da Segunda Guerra Mundial
O Museu da Segunda Guerra Mundial foi inaugurado em 2016, em um prédio de tijolos vermelhos e iluminado por vidros enormes. A construção se ergue como uma espécie de monolito, como se fosse uma estrutura caída do céu e cravada em um buraco no centro da Praça Władysław Bartoszewski.
A exposição permanente do museu fica em seu subsolo, ocupando cinco mil metros quadrados. Enquanto desço as escadarias de concreto, é como se embarcasse para uma jornada a um mundo obscuro da guerra, escondido de qualquer rastro de luz.
Além da exposição, o prédio também abriga uma biblioteca, salas de conferência, um café e um hotel, com opções até de apartamentos. Tudo isso nos andares superiores, envidraçados e iluminados.
Onde fica o Museu da Segunda Guerra Mundial
O local escolhido para a construção do Museu da Segunda Guerra Mundial faz parte de uma região emblemática da cidade. Está próximo ao centro histórico da Gdansk e a poucos metros da agência postal polonesa, ambos atacados e completamente destruídos no início da Guerra.
Para chegar até o Museu da Segunda Guerra Mundial é bem fácil. Saindo do centro antigo de Gdansk, caminhe por cerca de agradáveis 15 minutos pelas margens do Rio Motława. O museu fica na mesma margem do “The Crane”, o guindaste medieval que é símbolo da cidade.
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Ingressos e Horário de Funcionamento
Visitei o museu em uma terça-feira que, para a minha surpresa, é o dia da semana em que os bilhetes são oferecidos gratuitamente. Não é possível fazer o agendamento da visita nas terças, então recomendo que não deixe a visita para o final do dia, pois o número de entradas diárias é limitado.
O museu abre de terça a domingo e funciona das 10:00 às 18:00 nos meses de baixa temporada (setembro – junho) e de 10:00 h às 20:00 durante o verão (julho – agosto).
Os valores de entrada do museu são bastante acessíveis, considerando a sua estrutura robusta. O ingresso normal custa 23 zł (złoty polonês), que tem cotação bem próxima à do real brasileiro.
Os ingressos para o Museu podem ser adquiridos na bilheteria dentro do prédio do museu ou online, no site oficial.
Caso você tenha a Karta Turysty ou Gdansk Card, verifique o desconto oferecido para o Museu da Segunda Guerra Mundial.
Uma recomendação que deixo é que, se possível, use do serviço de áudio guia do museu. Dessa forma, a sua experiência será muito mais imersiva e contextualizada.
O aparelho reconhece onde você está no prédio, fornece os comentários corretos e, em seguida, informa para onde seguir na exposição. Você pode solicitar na bilheteria e custa 7 zł para utilizar. Estão disponíveis versões em 5 idiomas: polonês, inglês, francês, alemão e russo.
Dicas para a Visitação
Primeiramente, reserve algumas boas horas para percorrer o museu. Principalmente se você tem interesse pela história da Segunda Guerra Mundial. Em muitas partes da exposição são exibidos documentários e áudios com longos e preciosos depoimentos de sobreviventes, que merecem tempo para serem vistos/ouvidos.
Me assustei um pouco quando saí do museu e descobri que já estava noite e meu estômago já acusava um certo apetite. Fiquei cerca de 6 horas lá dentro e o tempo passou como um piscar.
A segunda dica é usar o guarda volumes que o museu disponibiliza gratuitamente. Aproveite e deixe os casacos e itens que possam te incomodar para desfrutar do passeio sem se preocupar com os seus pertences. Os armários ficam próximos à bilheteria.
Por último, saiba que o sinal de celular quase não existe nas profundezas da exposição. Então, caso tenha que se comunicar ou encontrar com alguém na saída, marque um local de encontro com antecedência.
Pavilhões e Exposições
Antes de mais nada, os cinco mil metros quadrados da exposição permanente do Museu da Segunda Guerra Mundial, a torna uma das maiores entre todos os museus de história do mundo.
Ao percorrer os seus espaços, a percepção de que este se trata de um museu bem fora do comum se torna clara. A narrativa dos pavilhões são formadas à partir das perspectivas dos grandes poderes que atuaram na guerra e, principalmente, pelas experiências das pessoas comuns que a vivenciaram de alguma forma.
A mostra tem que ser vista para ser entendida e sentida. Enquanto os acervos riquíssimos de fotografias, coleções de armas, uniformes e tantos outros artigos expostos dão robustez aos salões, são os depoimentos e pertences pessoais de famílias (que foram doados ao museu) que realmente ditam o tom da visita.
Os espaços são compostos por muito poucos textos. Em maior parte, são preenchidos por filmes, fotos, objetos de época, cartazes e sessões interativas.
Em síntese, são mais de 2.000 exibições, divididas em três blocos narrativos: ‘The Road to War’, ‘The Horrors of War’ e ‘The War’s Long Shadow’. E é sobre cada uma delas que detalho a seguir.
O Caminho para a Guerra – The road to war
“O Caminho para a Guerra” nos situa no contexto das ideologias políticas pré-guerra e na ascensão dos regimes totalitários na Europa e em outros países do globo.
Logo em suas primeiras salas, já somos impactados por uma das maiores ferramentas de controle da opinião popular e formação ideológica: a propaganda. Diversos cartazes, anúncios, produtos e, até mesmo, uma árvore de Natal com a suástica estampada nas decorações.
Cada uma dessas salas é dedicada a retratar um poder que procurou destruir a ordem colocada pelo Tratado de Versalhes, ou seja, o nazismo, o fascismo, o comunismo e o imperialismo japonês. Dessa forma, podemos perceber que a estratégia propagandística entre elas eram muito semelhantes.
Além disso, vemos os claros sinais de que todos esses poderes tinham algo em comum: visavam aniquilar algum grupo social. Ideologias diferentes, com “modus operandi” similares.
As placas antissemitas que eram exibidas nas ruas da Alemanha nazista de uma forma corriqueira são de dar calafrios.
A última história desse primeiro bloco gira em torno da agressão e crimes que a Polônia sofreu da Alemanha e da URSS em 1939. Bem como, uma parte também se dedica a explicar a situação única da Cidade Livre de Danzig (atual Gdansk) e como o local acabaria por ser a faísca que desencadeou a Segunda Guerra Mundial.
Por fim, uma das salas mais marcantes desse bloco é a rua cenográfica que representa como era uma cidade da Polônia antes da Guerra. Os produtos vendidos no comércio, e a vida pacata e regular das pessoas. Essa informação é importante, pois voltaremos nesse mesmo lugar mais para frente da exposição e em outro ponto da linha do tempo.
Os Horrores da Guerra – The horrors of war
A história do genocídio é mostrada em “Os Horrores da Guerra” pelo prisma das pessoas comuns.
Esse bloco, que contém uma série de documentos, artefatos da vida cotidiana e relatos de civis, prisioneiros de guerra, soldados e trabalhadores forçados, também é um dos mais emocionantes de toda a exposição.
Ali são mostrados horrores do holocausto e dos campos de concentração, assim como toda a estrutura e logística implantada nesse período de terror. Os ambientes são sombrios e a trilha sonora que embala esse momento da visita é fantasmagórica.
As exibições fotográficas são viscerais. A foto de uma criança ajoelhada sobre o corpo da sua irmã, os enterros em cenários sem espaço para os corpos, os bombardeios e suas inúmeras vítimas. O sentimento trazido nas imagens ainda é vívido, independente da época em que é visto ou da nacionalidade de quem a observa.
A mensagem ali trazida é ponto comum na maioria dos espaços que remetem à Segunda Guerra Mundial: lembrar para não repetir. Ensinamento necessário em todo momento da nossa história, mas especialmente nos dias de hoje em que sinais de governos totalitários começam a despontar em diversas partes do mundo.
Em frente à face do Terror, também surgem histórias de resiliência. O contraponto feito pela palavra polonesa “Ópor” (que significa “resistência”) está nas instalações enormes de um espaço muito significativo do museu.
Por último, esse bloco apresenta a luta na Polônia e em outras nações ocupadas. O desenvolvimento de tecnologias subterrâneas, máquinas para a quebra de códigos, as tentativas diplomáticas e políticas e a organização do povo para tentar garantir a sua sobrevivência.
A Longa Sombra da Guerra – The war’s long shadow
Por fim, o bloco “A Longa Sombra da Guerra” liga a história do fim da guerra e analisa as suas consequências. O que é retratado aqui são os movimentos e a longa recuperação de nações após 1945 e que afetaram o mundo nas décadas que se seguiram.
O mundo estava dividido. A Europa estava dividida. Eventualmente, Berlim foi dividida e uma guerra velada ficara exposta.
A chamada “Guerra Fria” e a divisão do mundo pela Cortina de Ferro também foram anos brutais, em uma disputa de poder que perdurou por mais de 45 anos.
Os resultados da guerra foram devastadores. A reconstrução das nações não foram feitas apenas por medidas políticas mas, principalmente, pelas mãos do povo. O enredo aqui não é composto por estatísticas daqueles que morreram, mas sim de histórias de sobrevivência e heroísmo dos cidadãos comuns.
Após a queda do Terceiro Reich, muitos contos são de liberdade e muitos são de subordinação à outro regime totalitário, o da União Soviética.
Além disso, os conflitos refletiram para muito além do continente Europeu. Em uma sala branca, quase que estéril, uma ogiva nuclear (réplica de uma das bombas lançadas no Japão) está pendurada no teto, sobre as nossas cabeças.
Como resultado, é mostrada a ação dos tribunais para os criminosos de Guerra e expostos diversos perfis de pessoas que, para aflorar a nossa angústia com a injustiça, escaparam deles e se exilaram, principalmente, na América do Sul e no Brasil.
A rua cenográfica que visitamos no início da exposição, que representava uma cidade polonesa antes da Guerra, é revisitada aqui. Agora, após 1945, com as suas ruas devastadas e os sinais das grandes perdas humanas e materiais sofridas pela Polônia.
Enfim, o encerramento da exposição se dá uma enorme sala com uma reprodução, lado a lado, de acontecimentos que se passaram na Europa nos dois lados da Cortina de Ferro. Ao sair dessa parte, você se encontrará na parte principal da exposição, que dá acesso à saída.
Como diz o manifesto escrito por todos os lados em Westerplatte e a missão clara dada a cada um dos visitantes do Museu da Segunda Guerra Mundial de Gdansk: Nigdy więcej wojny – No More War.
Curiosidades na Loja do Museu da Segunda Guerra
Antes de ir embora do prédio do Museu, recomendo uma passadinha em sua Loja, que fica próxima à saída da exposição permanente.
Você, leitor, já sabe que sou bem minimalista quanto às compras em viagens. Por isso, quando indico alguma loja, saiba que é especial.
Nessa loja você encontrará diversas peças de produção polonesa, com design muito interessantes e que remetem à cidade de Gdansk e, claro, à Segunda Guerra Mundial. Entre os produtos estão livros, jogos de tabuleiro, souvenires, roupas e mais um punhado de coisas.
Uma figura estampa diversos desses produtos, um urso simpático, geralmente carregando um item de artilharia.
Esse urso é o Cabo Wojtek. Ele existiu na vida real e “serviu” ao exército polonês, sob comando do General Anders. O urso, aparentemente, gostava de estar no exército e os soldados tinham simpatia por ele, pois ele tornava um pouco mais fácil sua vida cotidiana no front.
A imagem de Wojtek carregando um projétil de artilharia se tornou o emblema de sua unidade e, tempos depois, um ícone na Polônia. Atualmente, o urso tem diversos monumentos no país em sua homenagem e, ainda, está previsto o lançamento de um filme que contará a sua história.
Confira a animação, onde é contada essa história com mais detalhes:
Vai visitar o Museu da Segunda Guerra Mundial?
Se você pretende visitar o Museu da Segunda Guerra Mundial ou tem alguma experiência em algum local que remete à esses tempos, compartilhe o seu relato aqui nos comentários.
Espero ter lhe ajudado a programar a sua visita.
Museum Week 2021
#museumweek2021 – Esse post faz parte da Blogagem Coletiva para a Museum Week de 2021. Uma iniciativa de blogueiros de viagem que visa promover a visitação com informações de museus pelo mundo.
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14 comentários
Quero muito conhecer Gdansk, eu ia pra Polônia ano passado nas férias mas não deu certo. Em breve irei. O museu da segunda guerra está na lista de luagres pora eu conhecer por lá. Valeu por mostrar o quanto incrível ele é!
Massa demais, Roberto! Tomara que consiga reprogramar essa viagem para a Polônia logo.
Abraços
Que forte deve ser entrar nesse museu da segunda guerra né? Muito bacana conhecer Gdansk pelo seu vídeo. Parabéns peplo post
Um museu forte e necessário, Hebe! Obrigada, fico feliz que gostou também do vídeo 🙂
Nossa Marj, realmente não tem como ficar alheia a esse museu da Segunda Guerra e toda a história percorrida por ele! Eu quero muito visitar a Polônia e a cidade de Gdansk estará com certeza na minha lista. Embora triste e nauseante demais, é como você disse, a história não pode ser esquecida!
A Polônia é a sua cara, Ju! Certa que você aproveitará muito uma viagem para lá.
Uau! Fiquei impactada com o seu post sobre o Museu da segunda Guerra em Gdansk. Sonho em visitar a Polônia e já estou me organizando para realizar esse sonho. Com certeza vou pegar várias dicas da minha futura viagem por aqui. Estou adorando acompanhar o blog.
Parabéns e obrigada por compartilhar. Beijinhos
Oi Elizabeth, obrigada! Certa que em breve você estará por aqueles cantos vivendo experiências especiais. Beijinhos
Achei a arquitetura desse Museu da Segunda Guerra Mundial bem incrível, embora um museu q conte uma parte bem tensa da história ele parece incrível é muito bem organizado.
Lindíssimo o prédio, né Diego? A arquitetura, com certeza, ajuda a gente a digerir essa parte tensa da história.
Já vi algumas exposições sobre a Segunda Guerra Mundial na Alemanha, França e Espanha. Talvez ele tenha uma decoração clean, tipo escandinávia, por ser novo. Os arquitetos andam projetando direto algo desse tipo, hoje em dia.
Impactante ver a rua cenográfica do antes e do depois. Assisti algumas séries, que tratam a guerra, durante a pandemia, e simplesmente é apavorante se colocar no lugar dessas pessoas.
Marjorie, não conhecia teu blog, parabéns! Texto muito bem escrito, detalhado sem ser enfadonho, com pitadas de sua visão sobre o assunto. Não sabia da existência deste museu em Gdansk, já salvei no Google Maps para o caso de eu um dia estar na Polônia. Sucesso com o blog!
Achei incrível a arquitetura desse Museu da Segunda Guerra em Gdank. Só isso já seria um grande motivo para a visita. Além disso, toda uma viagem pela história. Adorei a dica!
Que texto gostoso de ler. Sou fascinada sobre a história da segunda guerra mundial e já quero muito voltar à Polônia para conhecer esse museu. Ele me pareceu incrível lendo sua experiência.